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Nunca me deixes

Texto escrito nos termos do novo acordo ortográfico.
Categoria: Literatura
Nunca me deixes

Tiago segurava o copo de uísque na mão direita. Um copo já quase vazio, mas com duas pedras de gelo mal derretidas. Pousou o copo na mesa depois do último gole. Dobrou as pernas, fartas da mesma posição. Revolveu as mãos entre os papéis baralhados e o teclado do computador. Pegou no copo e olhou para ele. Para as pedras de gelo a derreter lentamente. Pegou nelas e colocou-as na palma da sua mão. Viu-as escorregar no rasto frio de água. Mordeu os lábios e olhou fixamente para o computador, enquanto, na sua palma, as pedras se desfaziam. Apertou a sua mão, dobrou os dedos contra as pedras de gelo e atirou-as escritório fora. Levantou-se repentinamente, fechou o computador, apagou a luz. Encostado à porta, observou o médio escritório.

A luz da rua entrou devagar às três da manhã de sexta-feira. Fez brilhar o espelho onde a figura de Tiago se revelava, as suas feições, o seu estado negro e amargurado. Colocou as suas mãos no espelho frio, observou a sua face contra luz, sentiu o calor da sua boca no reflexo. As suas mãos tentaram agarrar o reflexo, chegar a alguém a quem não chegaram, pertencer onde não pertenciam… Cerrou os punhos e furiosamente bateu no espelho. Deixou-se cair, sério, com as mãos a deixar a fúria, mas não tirando os olhos encharcados do seu reflexo.

A luz foi entrando madrugada fora, mas o corpo de Tiago não ruíra com o cansaço. Continuava a olhar fixamente para o seu rosto mais iluminado pelos raios de sol das sete da manhã. O despertador alarma a casa toda. A sua cama range, parecendo solta e o chão seguia os passos no primeiro andar. Tiago sentiu o acordar no andar de cima, levantou-se devagar, trancou a porta do escritório e seguiu lentamente para o quarto.
Sofia estava no quarto. Despira o pijama e apresentava-se agora de roupão escarlate à sua frente. Olhou-o nos olhos. Ambas as bocas estavam seladas pelo olhar, ficaram mudas e não saiu uma palavra até Sofia quebrar o silêncio profundo do quarto.
- Mais uma noite trancado no escritório? – perguntou, respirando fundo, aguardando uma resposta pedida há já algum tempo.

Tiago não respondeu, apenas molhou os lábios ressequidos enquanto olhava para ela. Sofia olhou-o novamente, esperando que Tiago saísse do seu estado mudo. A sua mão tocou na face dele. Lentamente, passou os seus dedos pela barba por fazer. Aproximou-se, colocou a sua outra mão nas costas húmidas do namorado. Aproximou-se ainda mais, acabando por deitar a sua cabeça no ombro do amado. Tiago abraçou-a, meigamente.

- Tiago… acalma-te por favor, respira fundo, descansa.
Sofia puxa-o para a cama. Ela sentiu o lençol já frio nas suas costas, mais a respiração quente de Tiago no seu pescoço. As mãos dele apoderaram-se do seu corpo, procurando apenas conforto, não sexo. Ela deixou-se apoderar, instintivamente procurou a sua boca, mas não foi correspondida. Sofia tentou agarrá-lo, insistiu em querer o seu corpo ainda que à força. Mas não conseguiu. Respirou fundo.

Tiago levantou-se repentinamente, abandonando-a na cama, voltando o seu olhar para o reflexo do corpo solitário de Sofia no espelho do armário. Saiu do quarto, refrescou a sua cara depois de beber um iogurte na cozinha, pegou no computador e saiu de casa rumo a mais um dia de trabalho.

Tiago era engenheiro informático, trabalhava dia e noite, em casa e na empresa… Um trabalho que se tornara frustrante. Estava à espera que o seu currículo dos pequenos cinco anos de experiencia na área lhe desse outra oportunidade que preenchesse menos horas da sua vida em frente ao computador.

E essa oportunidade chegara. Quatro meses depois, chegara finalmente um novo troço na sua vida. Mas havia quatro meses que Sofia deixara aquela casa, sem uma razão, muda como Tiago quando saía do escritório. Tentava a sua sorte, ao telefonar-lhe todas as noites, mas não soubera nada dela desde que o deixara. Mas continuava a passar as noites no escritório em frente ao espelho. Esperando que o despertador ecoasse pela casa, o acordasse da anestesia e o levasse ao quarto, para se deitar na cama por cinco ou dez minutos, esperando que a mão suave e meiga de Sofia viesse acalmar a fúria do vulcão. Sentia falta dela, do seu cheiro, da festa na sua face… sentia falta essencialmente dos momentos felizes entre os dois. Mas estes desapareceram, derreteram como gelo na sua mão, ficara apenas água fria no seu coração.

Os dias foram passando, as noites solitárias, os dias chuvosos, lágrimas de saudade…
- Sérgio passa-me essa folha! – pediu Tiago ao seu colega, na nova empresa onde ingressara.
- Qual delas? – disse Sérgio, olhando para o monte de papel na secretaria.
- Deixa estar, eu já a agarro!
- Por hoje já chega! Já não posso agarrar mais no rato!
- Está quase!
- Quase?! Estás a gozar! Ainda agora começámos e temos de entregar isto amanhã! Estou farto de aqui estar!
- Queres acabar isto noutro sítio? Num café aqui perto ou assim? – propôs Tiago.
- Hum… Acho melhor não. Não há um melhor sítio? – perguntou Sérgio.
- Que tal em minha casa, se não te importares?
-Acho melhor!
Tiago e Sérgio preparam tudo para levar: folhas, computadores portáteis, casacos naquela tarde chuvosa de primavera.
- Estou todo encharcado! – disse Sérgio ao entrar em casa de Tiago.
- Eu posso-te emprestar umas roupas das minhas. Também tenho que ir mudar de roupa! – afirma Tiago.
-Se não te importares…

Tiago respondeu com um sorriso e conduziu Sérgio ao quarto para mudarem de roupa.
Sérgio tirou a sua camisola molhada. Dirigiu-se a Tiago que estava a escolher a roupa no armário. Coloca as suas mãos sobre a cintura dele. Deixou-se levar pelo que sentia, colocou as suas mãos sobre as de Sérgio. Sentiu Sérgio beijar-lhe o pescoço, devagar. Tiago fechou os olhos de prazer, mas abriu-os repentinamente como se tivesse acordado de um sonho mas.

- Sérgio, é melhor parares! - pediu-lhe, sentindo os lábios no seu pescoço.
Mas ele não parou. Virou-se e ficaram frente a frente. A sua cabeça dizia que não, mas o seu coração dizia que sim. Sentia-se devorado pelo dilema. Mas o coração foi mais forte…
- Temos de ir acabar o trabalho! – sussurrou Tiago ao ouvido de Sérgio umas horas depois. Estavam deitados na cama, colados um ao outro.
-Já vamos!
Acabaram por ficar mais um bocado ali, os dois abraçados. Mas foram interrompidos pelo tocar da campainha. Tiago lembrou-se que talvez fosse Sofia… Saiu do quarto e desceu. Mas, ao abrir a porta, a surpresa foi maior…
A sua mãe estava à porta. Tiago ficou boquiaberto quando a viu. Mas quando esta viu Sérgio em boxers, enfureceu.
- Afinal, sempre é verdade! O teu pai tinha razão! Sempre soube que as mulheres não eram a tua perdição! – gritou enquanto lhe bateu, confrontada por um medo que era bem real. Sérgio ficou a ver a cena perplexo.
A mãe de Tiago acabou por sair aos gritos e em lágrimas. Tiago ficara sentado no chão, magoado, não pelos estalos e murros furiosos da mãe, mas pela maneira como reagira, como descobrira…
Sérgio desceu as escadas, fechou a porta e tenta consolar Tiago.
- Por favor Sérgio, vai-te embora! – pediu Tiago.

Minutos depois de se ter vestido, a porta embateu com toda a força deixando Tiago entregue a um choro compulsivo.

Tiago passou o dia seguinte em casa, a chorar. Passou mais uma noite olhando para o seu reflexo aos bocados no espelho partido do escritório. O despertador cumpriu o ritual. O eco do som acordava a casa, mas não acordava Tiago, num estado rígido quase hipnotizado.

Respirou fundo, fechou os olhos. Viu no escuro toda a fúria da sua mãe, o bater da porta, a face sorridente de Sofia nos seus braços, os braços de Sérgio na sua cintura… Soltou um grito de fúria, de desespero, que combatia contra o eco do despertador.

Abriu os olhos cheios de raiva. Levantou-se rapidamente contra o espelho.
- Não quero ser como tu. Não quero viver eternamente nesta angústia. Passar todas as noites a olhar para um reflexo que não é meu! - gritou insistentemente contra o espelho, olhando olhos nos olhos o seu reflexo.

A raiva acalmou, os seus passos andaram para trás. Mas a fúria renasceu, atirou-se ao espelho e faz cair os últimos bocados do seu reflexo, chorando e agarrando-se a um reflexo que deixara de existir. O ponteiro do relógio fazia passar o tempo. Tempo esse que cada vez se tornava mais insustentável. Levantou-se, viajou pela casa procurando uma sobra que fosse a dele.

Ao abrir a porta principal, um cartão para Tiago leva até ele, novamente, uma sobra que se apoderara de si.

Tiago,
Não sei se fui má mãe pelo que aconteceu. Houve suspeitas, mas sempre quisemos acreditar que não era verdade. Mas eu não sou capaz de suportar esse pesadelo. Desculpa.

As lágrimas explodiram nos seus olhos, sentiu que a culpa caíra como chumbo sobre os seus ombros.
Correu para o seu quarto. Desfez a cama e escondeu-se debaixo dos lençóis.
Chorou sem fim, libertando nas suas lágrimas sal de angústia e sofrimento que nasciam no seu corpo. Sentiu um arrepio depois de um beijo. Levantou-se sobressaltado.
Olhou para a face à sua frente. Um sorriso nasceu na sua face sofrida. Levantou-se rumo ao corpo ajoelhado à sua frente.

- Desculpa! Não devia ter entrado assim em tua casa! – disse-lhe passando a sua mão pela face.
Tiago colocou a sua mão em cima daquela que estava na sua face e lhe secava as lágrimas. Olhou fixamente, sentiu o conforto e o silêncio. Mas os lábios à sua frente queriam matar o silêncio e Tiago, num gesto repentino, colocou a sua mão nos seus lábios, tentando-lhe calar as palavras.
- Shiu! Não digas nada! Apenas sente e responde a uma pergunta! – pediu Tiago. Ambos os corpos se encontravam agora apoderadas pela força do bater do coração nos respectivos peitos.
-O que é? – perguntou-lhe, percorrendo com as suas mãos o corpo de Tiago, agarrando-o pela cintura.

Ambos se aproximaram. As respirações fundiram-se, os peitos bateram em conjunto um contra o outro. Tiago respirou pescoço fora, viajou os seus lábios rumo ao ouvido, fazendo o seu último pedido:
- Nunca me deixes!


Rua Direita

Título: Nunca me deixes

Autor: Rua Direita (todos os textos)

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A história da fotografia

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Texto escrito nos termos do novo acordo ortográfico.
Tema: Fotografia
A história da fotografia\"Rua
A história e princípios básicos da fotografia e da câmara fotográfica remontam à Grécia Antiga, quando Aristóteles verificou que os raios de luz solar e com o uso de substâncias químicas, ao atravessarem um pequeno orifício, projetavam na parede de um quarto escuro a imagem do exterior. Este método recebeu o nome de câmara escura.

A primeira fotografia reconhecida foi uma imagem produzida em 1826 por Niepce. Esta fotografia foi feita com uma câmara e assente numa placa de estanho coberta com um derivado de petróleo, tendo estado exposta à luz solar por oito horas, esta encontra-se ainda hoje preservada.

Niepce e Louis –Jacques Mandé Daguerre inciaram em 1829 as suas pesquisas, sendo que dez anos depois foi oficializado o processo fotográfico o nome de daguerreótipo. Este processo consistia na utilização de duas placas, uma dourada e outra prateada, que uma vez expostas a vapores de iodo, formando uma pelicula de iodeto de prata sobre a mesma, ai era a luz que entrava na camara escura e o calor gerado pela luz que gravava a imagem/fotografia na placa, sendo usado vapor de mercúrio para fazer a revelação da imagem. Foi graças á investigação realizada por Friedrich Voigtlander e John F. Goddard em 1840, que os tempos de exposição e revelação foram encurtados.




Podemos dizer que o grande passo (não descurando muitas outras mentes brilhantes) foi dado por Richard Leach Maddox, que em 1871 fabricou as primeiras placas secas com gelatina, substituindo o colódio. Três anos depois, as emulsões começaram a ser lavadas com água corrente para eliminar resíduos.

A fotografia digital


Com o boom das novas tecnologias e com a capacidade de converter quase tudo que era analógico em digital, sendo a fotografia uma dessas mesmas áreas, podemos ver no início dos anos 90, um rápido crescimento de um novo mercado, a fotografia digital. Esta é o ideal para as mais diversas áreas do nosso dia a dia, seja a nível profissional ou pessoal.

As máquinas tornaram-se mais pequenas, mais leves e mais práticas, ideais para quem não teve formação na área e que não tem tempo para realizar a revelação de um rolo fotográfico, sem necessidade de impressão. Os melhores momentos da nossa vida podem agora ser partilhados rapidamente com os nossos amigos e familiares rapidamente usando a internet e sites sociais como o Facebook e o Twitter .

A primeira câmara digital começou a ser comercializada em 1990, pela Kodak. Num instante dominou o mercado e hoje tornou-se produto de consumo, substituindo quase por completo as tradicionais máquinas fotográficas.

Sendo que presentemente com o aparecimento do FullHD, já consegue comprar uma máquina com sensores digitais que lhe permitem, além de fazer fotografia, fazer vídeo em Alta-Definição, criando assim não só fotografias quase que perfeitas em quase todas as condições de luz bem como vídeo com uma qualidade até agora impossível no mercado do vídeo amador.

Tirar fotografias já é acessível a todos e como já não existe o limite que era imposto pelos rolos, “dispara-se” por tudo e por nada. Ter uma máquina fotográfica não é mais um luxo, até já existem máquinas disponíveis para as crianças. Muitas vezes uma fotografia vale mais que mil palavras e afinal marca um momento para mais tarde recordar.

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Bruno Jorge

Título:A história da fotografia

Autor:Bruno Jorge(todos os textos)

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Comentários

  • Rua DireitaRua Direita

    05-05-2014 às 03:48:18

    Como é bom viver o hoje e saber da história da fotografia. Isso nos dá a ideia de como tudo evoluiu e como o mundo está melhor a cada dia produzindo fotos mais bonitas e com qualidade!

    ¬ Responder

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