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Antes que seja tarde 2º Capitulo

Categoria: Literatura
Antes que seja tarde 2º Capitulo

"A adversidade é por vezes muito dura de suportar por um homem; mas por cada homem que aguenta a prosperidade, existe uma centena que irá aguentar a adversidade."
Elvis Presley

28 De maio de 2005
Dois dias passaram. O calor continuou a abafar as respirações, os corpos, levando as almas cada vez mais a pedir socorro. Rafael sentia-se prisioneiro do mundo. Ainda não voltara a casa, comera uma, apenas uma sandes num café e dormira num banco de jardim quando não aguentava mais um cansaço continuando a vaguear pelas ruas da cidade.

Sentia-se completamente exausto, as pernas estavam doridas, os pés doíam-lhe imenso mas mesmo assim continuava a andar. O telemóvel já tinha a caixa de mensagens cheia. Mafalda estava preocupadíssima com ele. Não tinha notícias dele há já três dias. Cada vez que ela lhe ligava Rafael rejeitava a chamada. Às inúmeras mensagens Rafael apenas escrevera uma: “não te preocupes… preciso de estar sozinho”. Mas Mafalda não desistia, continuava preocupada com ele e com as más disposições contantes e os enjoos que insistiam em voltar todas as manhãs…Andava desconfiada que podia estar grávida. Mas não passava de uma desconfiança que dia após dia ia-se tornando numa certeza.

Afonso estava novamente no hospital. O seu estado de saúde ia-se deteriorando dia para dia. Custava-lhe imenso olhar para o que fora, o seu passado e ao olhar para o presente, apesar de não o mostrar e de manter a barreira, deixavam-lhe uma enorme mágoa. Estava acabado, no fim da linha… mas com tanto para viver e com tantos sonhos. Tantos planos feitos, tantas coisas por fazer, muita coisa que fazia e que iria deixar de fazer para todo o sempre. Mas por muito que lhe custasse tinha de aceitar. Não tinha outro remédio, porque já não havia remédio.

- Como se esta a sentir? – Pergunta-lhe o médico acabado de entrar no quarto revisando os sinais vitais e a medicação.

-Com um pé cá e um lá! Só estou a enganar e a adiar o irreversível! – Responde Afonso, recompondo-se, não deixando mostrar a sua infelicidade.

-Estamos a fazer os possíveis mas por muito que eu queira não posso fazer os impossíveis. Não esperamos melhorias. Estamos apenas a tentar dar-lhe mais um tempo. Mas isto deve acabar entre dois a oito meses. - Diz o médico assinando uma folha do seu caderno acabando por sair deixando Afonso sozinho no quarto. Afonso toma uma decisão: tinha de sair do hospital tinha de aproveitar os dias que lhe restavam, os últimos do resto da sua vida!
Apesar da insistência do médico, Afonso segue a sua decisão em frente. Não se iria submeter a mais nenhum tratamento nem permitia que lhe fosse administrado mais algum.

Desistia da cura mas não desistia dos dias finais. Ia aproveitar o que ainda tinha direito, realizar pelo menos alguns dos seus sonhos, deixar tudo pronto antes do descanso final.


Ouve-se a chave a entrar na fechadura. Rafael chega finalmente a casa, sob o olhar espantado de Mafalda. Esta fica a olhar para ele, perplexa. Não parecia o mesmo, o cabelo encrespado todo despenteado, com a barba enorme, com umas olheiras negras como carvão e com a roupa marcada pelo suor. Rafael apenas passa por ela sem uma palavra e sobe silenciosamente sob o ranger das escadas de madeira. Mafalda queria abraçá-lo, beijá-lo, sentir o seu corpo junto ao dela mas não se conseguira mexer, era como se estivesse hipnotizada.

Rafael subiu e dirigiu-se para um duche e depois para um longo repouso. Ao entrar no duche apenas ouve aporta da frente fechar-se com força. Mafalda tinha saído, parecera furiosa mas naquele momento Rafael não pensava em mais nada senão descansar. Apagar-se do mundo por apenas umas horas. Parecera perder a alma e a fé. Era um boneco numa pista de obstáculos sem meta. Sentia-se a sangrar por dentro, um coração covarde sem reacção…
Atira-se para cima da cama, como se cai-se de paraquedas e esta fosse a sua salvação numa aterragem num buraco sem fundo. Rende-se a força da dor, ao tempo que teimava em passar. Acaba por deitar-se levado pelo cansaço do corpo e da alma, terminando por desabar num sono profundo.

Nunca se sentira assim. Sereno, silencioso, culpado com sentença ditada. Afonso perguntava de que era feito o seu coração. Sempre fora frio, distante de tudo e todos. Revoltado com a vida que levara, das coisas que tinha perdido e que hoje o mar lhe diz que perdeu. As ondas que rebentavam nas rochas escuras, a espuma branca que ia e vinha… Não tinha um olhar de quem esperava por ele, uma amor por quem palpitar ate lhe faltar o ar, um beijo verdadeiro e ternurento de chegada nem de partida… O mar continuava na sua dança sem parar, na sua canção sem fim, no seu azul invejando o céu limpo, uma vista livre, sem amarras á vida.

Caminha pela areia fina, marcando o seu caminho a espera de alguém que seguisse os seus passos e se juntasse ao fim da sua jornada. Sorri para o mar, sente as ondas beijar-lhe os pés, o vento levando os seus cabelos frágeis ao sabor do calor dos raios de sol que lhe aquecia o seu coração frio.

Ouve um riso infantil, correndo na sua retaguarda. Sente passos franzinos mancando passo ao lados dos seus na areia. Sente uma pequena bola verde bater-lhe no pé parada pela onda no rumo inverso. Afonso recolhe a bola quando um menino aparece por traz de si olhando para ele esticando a pequena e delicada mão. Os seus olhos brilhantes olham profundamente para os olhos baços de Afonso. Este deixa a bola na mão do rapazinho levemente olhando para ele.

-Obrigado – diz o menino na sua voz juvenil e doce correndo de volta para o seu recanto feliz de ter recuperado o seu brinquedo.

Afonso fica a olhar para a criança feliz marcando a areia levemente ao reencontro da brincadeira interrompida. O seu sorriso cresce, torna-se cada vez mais intenso, alegre, derretendo o cubo de gelo da infelicidade ao ver para aquele menino que corria alegremente. Persegue o brilho do sol acalmado pelas ondas serenas. Entregou-se ao caminho reverso dos seus passos. Segue o pássaro que pousa na areia e que foge da maré. Sente que o amor em si não morrer. Renasceu com o sorriso daquele menino e que valia a pena viver por muito pouco tempo que lhe restasse.


Tiago Manso

Título: Antes que seja tarde 2º Capitulo

Autor: Tiago Manso (todos os textos)

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Comentários - Antes que seja tarde 2º Capitulo

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Ex-Machina e a máxima: cuidado ao mexer com os robôs.

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Tema: DVD Filmes
Ex-Machina e a máxima: cuidado ao mexer com os robôs.\"Rua
Este texto irá falar sobre o filme Ex_Machina, nele podem e vão ocorrer Spoillers, então se ainda não viram o filme, vejam e voltem depois para lê-lo.

Impressões iniciais:

Ponto para o filme. Já que pela sinopse baixei a expectativa ao imaginar que era apenas mais um filme de robôs com complexo de Pinóquio, mas evidentemente que é muito mais que isso.

Desde as primeiras cenas é possível perceber que o filme tem algo de especial, pois não vemos uma cena de abertura com nenhuma perseguição, explosão ou ação sem propósito, típica em filmes hollywoodianos.
Mais um ponto, pois no geral o filme prende mais nos diálogos cerebrais do que na história em si, e isso é impressionante para o primeiro filme, como diretor, de Alex Garland (também roteirista do filme). O filme se mostrou eficiente em criar um ambiente de suspense, em um enredo, aparentemente sem vilões ou perigos, que prende o espectador.

Entrando um pouco no enredo, não é difícil imaginar que tem alguma coisa errada com Nathan Bateman (Oscar Isaac), que é o criador do android Ava (Alicia Vikander), pois ele vive isolado, está trabalhando num projeto de Inteligência Artificial secreto e quando o personagem orelha, Caleb Smith (Domhnall Gleeson), é introduzido no seu ambiente, o espectador fica esperando que em algum momento ele (Nathan) se mostrará como vilão. No entanto isso ocorre de uma forma bastante interessante no filme, logo chegaremos nela.

Falando um pouco da estética do filme, ponto para ele de novo, pois evita a grande cidade (comum nos filmes de FC) como foco e se concentra mais na casa de Nathan, que fica nas montanhas cercadas de florestas e bastante isolado. Logo de cara já é possível perceber que a estética foi pensada para ser lembrada, e não apenas um detalhe no filme. A pesar do ambiente ser isolado era preciso demonstras que os personagens estão em um mundo modernizado, por isso o cineasta opta por ousar na arquitetura da casa de Nathan.

A casa é nesses moldes novos onde a construção se mistura com o ambiente envolta. Usando artifícios como espelhos, muitas paredes de vidro, estruturas de madeira e rochas, dando a impressão de camuflagem para a mesma, coisa que os ambientalistas julgam favorável à natureza. Por dentro se pode ver de forma realista como podem ser as smart-house, não tenho certeza se o termo existe, mas cabe nesse exemplo. As paredes internas são cobertas com fibra ótica e trocam de cor, um efeito que além de estético ajuda a criar climas de suspense, pois há momentos onde ocorrem quedas de energia, então fica tudo vermelho e trancado.

O papel de Caleb á ajudar Nathan a testar a IA de AVA, mas com o desenrolar da história Nathan revela que o verdadeiro teste está em saber se Ava é capaz de “usar”, ou “se aproveitar” de Caleb, que se demonstra ser uma pessoa boa.

Caleb é o típico nerd introvertido, programador, sem amigos, sem família e sem namorada. Nathan também representa a evolução do nerd. O nerd nos dias de hoje. Por fora o cara é careca, barbudão com uns traços orientais (traços indianos, pois a Índia também fica no Oriente), bebê bastante e ao mesmo tempo malha e mantém uma dieta saudável pra compensar. E por dentro é um gênio da programação que criou, o google, o BlueBook, que é um sistema de busca muito eficiente.

Destaque para um diálogo sobre o BlueBook, onde Nathan fala para Caleb:
“Sabe, meus concorrentes estavam tão obcecados em sugar e ganhar dinheiro por meio de compras e mídia social. Achavam que ferramenta de pesquisa mapeava O QUE as pessoas pensavam. Mas na verdade eles eram um mapa de COMO as pessoas pensavam”.

Impulso. Resposta. Fluido. Imperfeição. Padronização. Caótico.

A questão filosófica vai além disso esbarrando no conceito de “vontade de potência”, de Nietzche, mas sobre isso não irei falar aqui, pois já há textos muito bons por aí.

Tem outra coisa que o filme me lembrou, que eu não sei se é referência ou se foi ocasional, mas o local onde Ava está presa e a forma como ela fica deitada num divã, e questiona se Caleb a observa por detrás das câmeras, lembra o filme “A pele que habito” de Almodóvar, um outro filme excelente que algum dia falarei por aqui.

Talvez seja uma versão “O endoesqueleto de metal e silicone que habito”, ou “O cérebro positrônico azul que habito”, mesmo assim não podia deixar de citar a cena por que é muito interessante.

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Jhon Erik Voese

Título:Ex-Machina e a máxima: cuidado ao mexer com os robôs.

Autor:Jhon Erik Voese(todos os textos)

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Comentários

  • Suassuna 11-09-2015 às 02:03:47

    Gostei do texto, irei conferir o filme.

    ¬ Responder
  • Jhon Erik VoeseJhon Erik Voese

    15-09-2015 às 15:51:02

    Que bom, obrigado! Espero que goste do filme também!

    ¬ Responder

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