O Canto da Missão


Bruno Salvador, mais conhecido por Salvo, é o protagonista desta narrativa. Encarna o filho acidental de um missionário católico irlandês e de uma congolesa. A mãe de Bruno foi uma das inúmeras vítimas da corriqueira violência no Congo e o pai, homem bem intencionado que não resistiu à paixão por esta nativa, não se poupou a esforços para que o filho tivesse, mesmo após a sua morte, uma educação ao mais alto nível. Assim, Bruno começa por ser educado na escola da missão em Kivu, província onde trabalhava o padre Michael, seu pai, sendo depois levado para Inglaterra.
Em Londres, onde passa a residir, é tradutor e intérprete profissional de uma vasta panóplia de línguas africanas minoritárias e não minoritárias (o xi, o suaíli, o ruanda-queniano, o ruanda-ugandês, etc.) e a sua competência profissional é amplamente reconhecida, coadjuvada por uma conduta incensurável e por uma imperturbável candura.
Este órfão aprendeu, tanto no Congo como em Inglaterra, a aproveitar da vida o que ela lhe oferecia, não perdendo tempo nem desperdiçando capacidades com questões existenciais. Na verdade, ele é o bastardo desenraizado de umas raízes que, na prática, nunca teve. Ainda assim, tem a dita de se integrar na perfeição em cada espaço que frequenta e de aí exibir cortesia, independência, vaidade, encanto e bondade.
A duplicidade e a hipocrisia cómica são uma constante em «O Canto da Missão». O conceito de “gentleman”, por exemplo, é ridicularizado, enquanto que ao de “nonsense” é atribuído total sentido, como referência ao absurdo. De facto, ante o desfile de ex-colonizadores e ex-colonizados, “respeitáveis” homens de negócios e fazedores da guerra, curandeiros, generais e legisladores, chefes de tribo, europeus, americanos, africanos e asiáticos (se calhar, ninguém se lembrou de avisar os australianos…), todos única e exclusivamente atrás do ouro, dos diamantes, do petróleo e dos metais preciosos que o solo africano é generoso em dar, só mesmo a habilidade da linguagem e muito humor para manter algum equilíbrio e o mínimo de esperança…
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