Caçada
Por trás das silvas, vi coelhos a saltitar, deliciosos e gordinhos, prontos para irem à minha pança, e eu mal conseguia aguentar. Passo a passo aproximava, um deles começou a remexer o nariz e alevantou-se, olhando para vários lados, o meu instinto há muito adormecido despertou, e assustei o coelho, atacando-lhe por cima, apanhei-lhe o pescoço.
O dia de ontem tinha sido um belo jantar a carne (mesmo apesar de crua) era deliciosa. Mas eu ansiava por mais, a fome era forte. Mas tive que aguentar, iam comendo umas ervas pelo caminho, continuando a minha viagem, indo por sítios cada vez mais inóspitos, escalando a montanha, via várias cabras e bodes, saltitando, fez-me lembrar novamente os coelhos, os meus olhos arregalaram, e comecei a salivar.
Eu tinha comido um simples e inocente cabrito, o coelho era diferente, era adulto, e havia tantos dele, mas este cabrito tinha-se perdido, e eu da minha inesgotável fome comi-o, eu não sou o seu predador natural, e penso que senti que desviei a fauna deste local. A minha fome continuava a perturbar-me, a carne fazia-me deliciar, eu tinha que continuar a comer cada vez mais e mais, mais, mais, mais, não podia parar.
Encontrava duma região húmida, uma floresta não muito longe encontrava-se ali, de perto havia uma pequena lagoa, garças andavam por ali e a vegetação misturava-se com a agua, fui bebe-la, e comecei olhar para o meu reflexo, eu tinha um ar estranho, tinha-me tornando dum animal sedento de sangue, a lutar pela sobrevivência. Os meus olhos amarelos, a minha pela escamosa, de lábios enormes, de dentes aguçados. O crocodilo queria comer a minha cara, mas desviei-me mesmo a tempo, era isso que tinha visto do reflexo, mas sabia que não era diferente dele. Eu por mim já me tinha transformado em tal coisa.
Pouco tempo depois eu libertei-me das minhas roupas, andava nu, apenas com o pelo em que com o tempo foi-me tapando protegendo-me do inverno, eu fui aumentando os meus músculos, comecei a usar os meus braços como pernas para correr mais depressa, transformei-me duma besta.
Sendo agora mais animal que homem, tinha-me libertando daquilo que em humano não podia fazer, sentir o vento ir contra a minha cara em grandes velocidades, chegar ao fim do dia com satisfação depois duma caçada, enfim a liberdade era me garantida o que a civilização não o fazia, mas por vezes tinha saudades. Não, não tinha.
Um certo dia, vejo um leão macho maduro errante, esta parecia-me ser uma grande hipótese para mostrar os meus dotes de guerreiro. Esperando pacientemente para que ele abaixa-se a guarda, ele deitou-se num vasto arbusto, com intenções de dormir, ai lancei ferozmente, e ele rosnou para cima da mim erguendo-se a grande velocidade, mostrando caninos aguçados, os meus braços do tamanho pedregulhos gigantes, fizeram força a tal criatura, a sua boca era poderosamente musculada, mas eu também era, mandei-lhe ao, levantando-se logo a seguir, apanhei o tronco e saltei para cima dele esmagando-o, mas sem me arranhar a barriga, muito sangue jorrou.
Horas passaram e via vários abutres atras de mim, o sol escadeava, eu precisava de muita agua, tinha ido ao lago, aonde tinha começado a transformação, antes do crocodilo me ter morto, pensava se da civilização teria tal morte?
Comentários ( 2 ) recentes
- Daniela Vicente
10-09-2012 às 13:46:33Ainda estou a reflectir sobre o seu texto/história: interessante, intrigante ou apenas uma história? Pois não sei. Se a história foi imaginada por si, parabéns. Parece realmente uma forma de contar histórias muito vanguardista, se não foi você escrever, parabéns por contá-la mesmo assim. Percebi que faz alusão a uma pequena lição de moral com a pergunta final relativamente à civilização. Já a sua outra história do Diabo tinha esta vertente tão "sei lá".
¬ Responder - Wallace Randal
01-09-2012 às 21:47:12Escreve muito bem! muito bom o texto
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