Bem vindo à Rua Direita!
Eu sou a Sophia, a assistente virtual da Rua Direita.
Em que posso ser-lhe útil?

Email

Questão

a carregar
Textos | Produtos                                                    
|
Top 30 | Categorias

Email

Password


Esqueceu a sua password?
Início > Textos > Categoria > Literatura > Antes que seja tarde 4º capitulo

Antes que seja tarde 4º capitulo

Categoria: Literatura
Antes que seja tarde 4º capitulo

“ Os caprichos podem ser perdoados, mas é um crime despertar uma paixão duradoura para satisfazer um capricho”

André Maurois

3 De Junho de 2005

A chuva escorria como lagrimas durante vários dias. Ficava a intensa sensação que alguém estava chorar nos céus. Afonso estava em casa vendo as últimas gotas escorregar no vidro duplo do seu apartamento. Escorregavam devagar, desaguavam no mármore do parapeito. Permaneciam no charco até que o vento e o calor as evaporassem. Lembrara-se da mulher que conhecera. As gostas escorregavam na janela como nas curvas do corpo dela. Caiam nas curvas do seu cabelo, desciam pelo seu corpo, pelas suas pernas finas ate aos seus leves pés descalços correndo ate ao seu abrigo. Permanecera na sua mente a cor daqueles olhos profundos, ficara na sua memória os seus lábios vermelhos carnudos e molhados. E o seu sorriso ao olhar para ele.

-Foi a minha salvação nesta tempestade! – Disse-lhe ela já recuperada da corrida até Afonso. Este estava hipnotizado pela bela figura feminina movendo-se á sua frente. Caminham juntos através da chuva intensa, sobre o céu negro e o mar espelhando a escuridão na areia encharcada e em que cada passo firme pesado na areia se enchia logo de seguida e que transbordavam de uns para os outros. A cada passo e passo, aqueles dois desconhecidos protegidos pelo guarda-chuva rumaram a um café ali perto.

Afonso bebia já um café acabado de sair, rasgara o pacote de açúcar e derramara-o na chávena. Pega na colher e começa a mexer sentindo o aroma quando chega a mulher da praia, Isabel, á sua frente. Tinha sido ajudada por uma senhora que estava no café e lhe tinha emprestado umas peças de roupa que fora busca a sua casa dois andares por cima do pequeno café junto a praia, onde ainda se ouviam as ondas rebentarem nas rochas.

Isabel sorria para Afonso, ela olhava nos seus olhos verdes profundos com os seus azuis-escuros. Movia os seus lábios vermelhos bastantes carnudos admirando Afonso que bebia o café de uma vez. Repara que Afonso se encontrava debilitado, frágil mas que apesar de este o esconder a todo o custo Isabel fora perspicaz, havia sinais demasiado evidentes que Afonso já não conseguia esconder. Passaram bastante tempo comtemplando-se um ao outro até que Isabel toma a iniciativa:

-Você deve pensar que sou uma doida! Com este tempo andar pela praia… - Ri-se Isabel fazendo sinal para que Afonso que tirava o maço de cigarros do bolso lhe desse um. Afonso dá-lhe o cigarro, acende o seu e passa o isqueiro a Isabel que o acende e lho devolve.

-Pensava que já tinha deixado o vício que me estragou a vida mas não consigo… -Lamenta-se Afonso
-É um mau vício é verdade mas sabe bem, tal como todos os vícios, precisamos de um novo vício para deixar o anterior. – Fala Isabel levando o seu cigarro aos seus lábios, travando o fumo nos seus pulmões expelindo-o para cima e pergunta retomando o ar:
- Porque não muda de vício?
-Talvez porque não tenha tempo para mudar de vício! - Responde peremptoriamente Afonso. Isabel fica paralisada durante escassos segundos mas logo retoma a pose. Retoma o seu sorriso, o seu dançar sensual de manobrar o cigarro e a cabeça de Afonso. Este sente o calor da perna dela aproximando-se da dele acabando por colidirem uma na outra.
-Faça como eu, e não o tabaco não é o meu vicio, só fumo de vez em quando e por norma quando estou com homens, mude de vida! – Garante Isabel mantendo o seu sorriso já no final do cigarro.

Afonso mostra-se curioso, mas não queria ser indelicado. Sentia que tinha a sua frente um vulcão de sensualidade prestes a entrar em erupção. Olhava dentro dos seus olhos, traduzia cada movimento sensual dos seus lábios, cada gesto no seu cabelo.

- Foi uma mudança assim tao drástica na sua vida? – Pergunta não resistindo a curiosidade.
-Digamos que sim, os anos passam, a beleza não perdura para sempre e nem sempre a vida que escolhemos num momento e a que queremos momentos a seguir. Mas não me arrependo das minhas escolhas e actos apenas do que poderia ter feito e não fiz. Apenas de isso me arrependo! - Diz-lhe apagando o cigarro na cinza inerte no cinzeiro.
- E como todas as pessoas também tenho os meus arrependimentos, cada segundo passa, cada minuto conta a cada hora, a todo o dia ate que estes se formem apenas memórias a cada ano que vai passando sem retorno. Mas o que fica e a nossa marca, boa ou menos boa ate que a nossa carne se desvaneça deste mundo e o nosso espírito viagem sem fim e sem rumo, liberto da vida e da morte.

Isabel olha fixamente para Afonso depois destas palavras proferidas. Parece desvanecer o seu lado sedutor e deixa a vista o seu lado mais intimo, mais profundo aquele que escondera a todo o custo mas que vinha ao de cima deixando desvanecer a cada sinal contraditório.

Rafael parara no tempo. A sua casa estava quase vazia, jaziam os restos da relação acabada. No fim de contas, o saldo eram uma casa meia mobilada, meia vazia, uma assinatura num papel e cada vida para seu lado. Mas Rafael não tinha rumo algum. Andava a dias sem saber que fazer, que pensar na vida… O seu aspecto afastava as pessoas nas ruas, parecia um sem-abrigo debaixo do seu próprio tecto, refugiado do seu próprio corpo sem amor por si mesmo, esperando pelo tempo passar e encontrar uma luz, a sua estrela polar que lhe mostrasse o caminho para a sua felicidade. Estava sentado numa cadeira de madeira maciça na cozinha debaixo da luz fraca do anoitecer que entrava pela larga janela. Sentia uma enorme falta de amor, insuportável no seu coração despedaçado, covarde, incapaz de olhar em frente e deixar de sobreviver mas viver. Rompe o silencio, a tempestade acalma, quer viver, mas o ar torna-se cada vez mais irrespirável… Sente o amor morrer, por si, pelos outros, pela vida, pelos motivos que o matem vivo. Sente medo, um arrepio que lhe percorre o corpo. Sente raiva e paz, tristeza e serenidade… Bebe um golo de água do copo incolor que estava abandonado em cima da mesa.

Olha fixamente para ele. Vibra com o seu sofrimento interior. Quer refugiar-se da sua pele, lutar contra o vento que corre na sua direcção. Sente-se num impasse. Como se o seu corpo parasse esperando resposta da alma, uma resposta que muda-se o presente, de vez e deixa-se, agora sem remorsos e sem medos, aquilo que realmente é, aquilo que realmente sempre fora mas que escondera no mais profundo cova, esperando o ressuscitar da sua verdadeira essência. Perdeu as correntes que o prendiam, agora era livre para seguir com a sua vida mas desta vez sendo ele mesmo.

O copo cai no chão despedaçando-se sobre a água derramada no solo. Rafael levanta-se da cadeira, parecera que o barulho do copo que se partira fora o seu despertar.


Tiago Manso

Título: Antes que seja tarde 4º capitulo

Autor: Tiago Manso (todos os textos)

Visitas: 0

601 

Comentários - Antes que seja tarde 4º capitulo

voltar ao texto
  • Avatar *     (clique para seleccionar)


  • Nome *

  • Email

    opcional - receberá notificações

  • Mensagem *

  • Os campos com * são obrigatórios


  • Notifique-me de comentários neste texto por email.

  • Notifique-me de respostas ao meu comentário por email.

Ex-Machina e a máxima: cuidado ao mexer com os robôs.

Ler próximo texto...

Tema: DVD Filmes
Ex-Machina e a máxima: cuidado ao mexer com os robôs.\"Rua
Este texto irá falar sobre o filme Ex_Machina, nele podem e vão ocorrer Spoillers, então se ainda não viram o filme, vejam e voltem depois para lê-lo.

Impressões iniciais:

Ponto para o filme. Já que pela sinopse baixei a expectativa ao imaginar que era apenas mais um filme de robôs com complexo de Pinóquio, mas evidentemente que é muito mais que isso.

Desde as primeiras cenas é possível perceber que o filme tem algo de especial, pois não vemos uma cena de abertura com nenhuma perseguição, explosão ou ação sem propósito, típica em filmes hollywoodianos.
Mais um ponto, pois no geral o filme prende mais nos diálogos cerebrais do que na história em si, e isso é impressionante para o primeiro filme, como diretor, de Alex Garland (também roteirista do filme). O filme se mostrou eficiente em criar um ambiente de suspense, em um enredo, aparentemente sem vilões ou perigos, que prende o espectador.

Entrando um pouco no enredo, não é difícil imaginar que tem alguma coisa errada com Nathan Bateman (Oscar Isaac), que é o criador do android Ava (Alicia Vikander), pois ele vive isolado, está trabalhando num projeto de Inteligência Artificial secreto e quando o personagem orelha, Caleb Smith (Domhnall Gleeson), é introduzido no seu ambiente, o espectador fica esperando que em algum momento ele (Nathan) se mostrará como vilão. No entanto isso ocorre de uma forma bastante interessante no filme, logo chegaremos nela.

Falando um pouco da estética do filme, ponto para ele de novo, pois evita a grande cidade (comum nos filmes de FC) como foco e se concentra mais na casa de Nathan, que fica nas montanhas cercadas de florestas e bastante isolado. Logo de cara já é possível perceber que a estética foi pensada para ser lembrada, e não apenas um detalhe no filme. A pesar do ambiente ser isolado era preciso demonstras que os personagens estão em um mundo modernizado, por isso o cineasta opta por ousar na arquitetura da casa de Nathan.

A casa é nesses moldes novos onde a construção se mistura com o ambiente envolta. Usando artifícios como espelhos, muitas paredes de vidro, estruturas de madeira e rochas, dando a impressão de camuflagem para a mesma, coisa que os ambientalistas julgam favorável à natureza. Por dentro se pode ver de forma realista como podem ser as smart-house, não tenho certeza se o termo existe, mas cabe nesse exemplo. As paredes internas são cobertas com fibra ótica e trocam de cor, um efeito que além de estético ajuda a criar climas de suspense, pois há momentos onde ocorrem quedas de energia, então fica tudo vermelho e trancado.

O papel de Caleb á ajudar Nathan a testar a IA de AVA, mas com o desenrolar da história Nathan revela que o verdadeiro teste está em saber se Ava é capaz de “usar”, ou “se aproveitar” de Caleb, que se demonstra ser uma pessoa boa.

Caleb é o típico nerd introvertido, programador, sem amigos, sem família e sem namorada. Nathan também representa a evolução do nerd. O nerd nos dias de hoje. Por fora o cara é careca, barbudão com uns traços orientais (traços indianos, pois a Índia também fica no Oriente), bebê bastante e ao mesmo tempo malha e mantém uma dieta saudável pra compensar. E por dentro é um gênio da programação que criou, o google, o BlueBook, que é um sistema de busca muito eficiente.

Destaque para um diálogo sobre o BlueBook, onde Nathan fala para Caleb:
“Sabe, meus concorrentes estavam tão obcecados em sugar e ganhar dinheiro por meio de compras e mídia social. Achavam que ferramenta de pesquisa mapeava O QUE as pessoas pensavam. Mas na verdade eles eram um mapa de COMO as pessoas pensavam”.

Impulso. Resposta. Fluido. Imperfeição. Padronização. Caótico.

A questão filosófica vai além disso esbarrando no conceito de “vontade de potência”, de Nietzche, mas sobre isso não irei falar aqui, pois já há textos muito bons por aí.

Tem outra coisa que o filme me lembrou, que eu não sei se é referência ou se foi ocasional, mas o local onde Ava está presa e a forma como ela fica deitada num divã, e questiona se Caleb a observa por detrás das câmeras, lembra o filme “A pele que habito” de Almodóvar, um outro filme excelente que algum dia falarei por aqui.

Talvez seja uma versão “O endoesqueleto de metal e silicone que habito”, ou “O cérebro positrônico azul que habito”, mesmo assim não podia deixar de citar a cena por que é muito interessante.

Pesquisar mais textos:

Jhon Erik Voese

Título:Ex-Machina e a máxima: cuidado ao mexer com os robôs.

Autor:Jhon Erik Voese(todos os textos)

Alerta

Tipo alerta:

Mensagem

Conte-nos porque marcou o texto. Essa informação não será publicada.

Deixe o seu comentárioDeixe o seu comentário

Comentários

  • Suassuna 11-09-2015 às 02:03:47

    Gostei do texto, irei conferir o filme.

    ¬ Responder
  • Jhon Erik VoeseJhon Erik Voese

    15-09-2015 às 15:51:02

    Que bom, obrigado! Espero que goste do filme também!

    ¬ Responder

Pesquisar mais textos:

Deixe o seu comentário

  • Nome *

  • email

    opcional - receberá notificações

  • mensagem *

  • Os campos com * são obrigatórios