Narciso e Goldmund
Narciso e Goldmund constituem arquétipos de opostos que se atraem com um pseudo-magnetismo. O dilema que se instala entre os dois temperamentos é imagem de marca do autor. Contudo, ele possui a fantástica capacidade de fundi-los numa sinopse que assenta, em grande medida, na filosofia taoista. Nesta obra é notória a presença ideológica de Carl Gustav Jung. Tendo como cenário um convento da Europa Central, são os sonhos das personagens que conduzem o fio da meada de uma história que evoca as noções de inconsciente colectivo, individualização e outras concepções de Jung.
As dicotomias espírito-matéria, ascese-prazer sensual, racional-emocional, conhecimento-sensorialidade são objecto de análise por parte do escritor suíço (da região alemã) que recebeu em 1946 o Prémio Nobel da Literatura. O dualismo da vida, das escolhas e das diferenças, a fragmentação entre o arrebatamento religioso e o deslumbramento da criação artística, numa clara alusão à vida ascética e minimalista de Narciso em oposição à conduta boémia e apaixonada de Goldmund, encontram-se bem patentes nesta produção fictícia de Hesse.
Porque é que se há-de consumir concepções pré-fabricadas sem nem ao menos as reformular? Narciso sabia perfeitamente o que estava a ocorrer com Goldmund, dada a sua beleza, energia e idade. Ainda assim, não tinha a pretensão de que o grego colmatasse a juventude da sua alma ou a lógica respondesse a um amor inocente. No respeito pela diferença está a construção da igualdade!