
Educar, para muita gente, significa mandar à escola, velar pelo futuro cultural de uma criança ou adolescente, cuidar para que as regras de civilidade sejam cumpridas (muitas vezes em ordem ao próprio orgulho e imagem, enfim, tudo excepto o mais importante: conduzir para a felicidade e a plenitude a vida dos filhos ou educandos. Nesta perspectiva, quando os mais novos não preenchem as expectativas dos educadores (ou pseudo-educadores), surgem, amiúde, os gritos como tentativa (frustrada) de recuperar a autoridade perdida (ou nunca ganha).
Efectivamente, os gritos advêm da impotência sentida em impor as suas normas, quando, na realidade, seria bem mais fácil dar, simplesmente, o exemplo. Pais felizes e autoconfiantes têm bastante mais probabilidades de verem nos filhos seguidores de uma conduta reconhecida como boa, agradável e segura do que aqueles que, esporadicamente ou de forma sistemática, revelam, mediante o acto de gritar, uma manifesta incapacidade de lidar consigo mesmos, com as realidades que se vão apresentando e, portanto, com os filhos e o seu processo de crescimento, com as várias fases que atravessam.
O regime ditatorial que se viva há uns anos atrás foi substituído pela quase anarquia. Actualmente, em demasiados lares, as crianças são instigadas a promover o seu próprio estilo de educação (ou deseducação, melhor dito). A falta de tempo, o egoísmo dos pais, a amenização supostamente justificada, pelo trabalho e por tantas outras coisas, da responsabilidade de educar, deixam à deriva os pequenos, que aprendem da televisão e de outros cenários igualmente tristes e pobres a permissividade total, as excepções à regra, em vez das regras em si, uma passividade embrutecedora.
O afecto, a motivação, o elogio e o reconhecimento constituem elementos absolutamente fundamentais para a educação integral da criança. Os primeiros três anos são o grande investimento para a vida futura de um ser que, ao nascer, espera que lhe preencham com amor, tolerância, coerência e respeito os 80 por cento que não integram o código genético e que, deste modo, estão por “escrever”. Educar é, neste contexto, o sucesso na busca do equilíbrio entre a firmeza e a flexibilidade, a razão e as emoções, o controlo e a liberdade. Este trabalho não é estanque; tem de ser feito todos os dias com empenho e perseverança, aprendendo com os erros cometidos ao invés de gritar, e pedindo desculpa sempre que necessário, porque só assim se pode aperfeiçoar.
Não há receitas infalíveis nem universais (até porque os filhos são todos diferentes), mas é certo que perder as estribeiras é contraproducente. Contar até dez, ou mesmo até cem, pode ajudar. Aprender estratégias alternativas de educação viradas para a positividade também. A atenção é o maior prémio que um filho pode receber, e a ausência dela o pior castigo. A convicção de que um filho vai conseguir fazer isto ou aquilo ou responder adequadamente a uma situação representa para este uma profecia praticamente realizada. Dotada de auto-estima e autoconfiança, e apetrechada com princípios e valores humanos, esta criança enceta a sua integração social e começa, progressivamente, a participar na sociedade de maneira construtiva, adaptada e feliz, qual prenúncio de um adulto bem sucedido em todas as áreas da existência.